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Algumas Considerações sobre a Dinâmica e Gênese dos Grupos

 

 

Olá PsicoLeitores, quero apresentar para vocês um pouco das minhas impressões, em forma de resenha, do livro Dinâmica e Genese dos Grupos. Para ser sincero falarei sobre o terceiro capítulo desse livro que foi o que me chamou atenção. O livro como um todo é muito bom, as informações são passadas de forma clara e o autor consegue descrever um pouco (e não digo no sentido negativo) da vida e muito da obra de Kurt Lewin de forma espetacular, recomendo a leitura por sinal. Meu professor da disciplina de Psicologia Social (Marcelo Mendes) que me recomendo a leitura. Em breve farei uma resenha desse livro e colocarei la na categoria de Resenha de Livros.

 

Dinâmica e Gênese dos Grupos, Kurt Lewin, Capítulo III: 

No começo do capítulo somos apresentados quanto a percepção e importância dos trabalhos de Kurt Lewin e como as suas descobertas agregaram valor a observância dos problemas sociais.

Lewin coloca a sua vivência pessoal como primeiro problema a ser estudado, esse investimento de energia foca nas minorias judaicas e somente quando ele estabelece uma “psicologia das minorias judaicas” – que atende aquele grupo específico – é que decide ampliar tal conceito, buscando somente uma “psicologia das minorias”. Essa problemática exposta e explorada por Lewin é que o ajuda a desenvolver a ideia manifesta de Dinâmica de Grupo.

É interessante que o autor nos chama atenção para a preocupação de Kurt Lewin para com as ambiguidades semânticas (e equívocos) quanto as palavras: minoria e maioria. Para ele, minoria seria o grupo que está à mercê e boa vontade de um grupo, ou seja, não é um grupo autônomo tão pouco goza de plenos direitos de se autodeterminarem; a maioria seria justamente o oposto da minoria, seriam pessoas que são capazes de se autodeterminarem porque possuem estruturas para serem autônomos, independendo da sua quantidade numérica.

 

 

“[...] os membros que pertencem a uma minoria psicológica sentem-se, percebem-se e se reconhecem em estado de tutela. E isto independentemente da porcentagem de seus membros, [...] assim maiorias demográficas podem ter por estas razões uma psicologia de minoritários” (p. 35).

 

Essa é uma citação importantíssimas do autor para que consideremos melhor a posição da psicologia social. É interessante que Kurt Lewin baseia todo seu trabalho em quatro livros que são sobre a psicologia dos judeus; evidencio aqui a importância da experiência do próprio sujeito.

A existência de uma minoria qualquer, para Lewin, dependeria apenas que a maioria tolerasse essa última, no meio da qual está inserida. Lewin vai além, expõe que essa aceitação independe dos “comportamentos aceitáveis, [...] ou comportamentos repreensíveis de alguns indivíduos” (p. 47).Teremos então uma explicação do comportamento entre minoria e maioria – e devemos lembrar do conceito dessas palavras para Kurt Lewin -, a maioria somente transpassa as barreiras sociais negativas que cercam as minorias através do próprio comportamento delas, que seriam fatores de fortalecimento de sua própria identidade (das minorias). Para nós, podemos encontrar o ápice do capítulo ao ler essa afirmação do autor: “ [...] principalmente em período de tensão e de perigo coletivos que a maioria tende a exercer represálias contra as minorias, cedendo a uma necessidade de descarregar sobre um bode expiatório os picos de agressividade desencadeados pelas frustrações e as privações que lhes são impostas durantes tais períodos críticos” (p. 47), que encontraria na minoria a falta de defesa psicossocial necessária que impedisse tal deslocamento¹.

Ao longo do capítulo o autor expõe os questionamentos de Kurt Lewin sobre essa dinâmica que há na sociedade, ele tenta (e consegue) explicar como se dá essa interação. Ele nos conta que é através da pressão social (das maiorias) que faz as minorias quererem a autoafirmação e é justamente a pressão que fará com que essas minorias destaquem e exaltem suas características ante a maioria. Nos valendo das palavras do autor, as “minorias creem que só podem garantir sua sobrevivência separando-se ou emancipando-se totalmente da maioria” (p. 52), entretanto, uma ponderação deve ser feita, isso não é uma característica intrínseca da minoria e sim de grupos isolados que compõe a minoria, o capítulo expõe que há minorias que buscam uma integração com a maioria e acredito ser de fundamental importância essa informação porque pode evidenciar conflitos de ideias entre as próprias minorias.

Para finalizar esse capítulo, quero deixar um parágrafo que certamente resume o tema discutido:

Lewin afirma que as minorias que renunciam à sua sobrevivência e aquelas que optam pela integração em um contexto de relações cordiais e um tanto servis em relação à maioria tendem a adotar as mesmas atitudes coletivas. De fato, ele considera que no plano Inter étnico as atitudes coletivas destas minorias são tipicamente adolescentes. O que sua estratégia tem em comum é basear-se na hipótese de que a presente situação de discriminação cessará no dia em que seu pertencimento à minoria será desconhecido, ignorado ou anulado. Assim como o adolescente deseja ser aceito pelo mundo dos adultos no dia que convencê-los de que não é mais uma criança” (p. 53), essa afirmação de Lewin - através do autor do livro - mostra o que pretendo defender ao longo do texto: a percepção do caso depende de uma experimentação íntima, ou seja, o que faz a pessoa voltar sua atenção para esse objeto deve-se a relação com o próprio objeto; Lewin era judeu. Complemento, sabemos que os esforços para mudar essa realidade são grandes, no plano social atual, mas os resultados, por mais animadores que sejam, são fracos ante a necessidade de integração (podendo ler como aceitação) dos grupos minoritários. Há resistência por parte daqueles que desconhecem a dinâmica social – e por que não dos grupos - ou relutam a aceitar a própria realidade subjetiva.

Busquei na leitura e resenha deste capítulo uma tentativa de evidenciar algo fundamental frente as diversas teorias expostas ao longo do curso, todas essas mentes brilhantes tiveram, de alguma forma, um contato íntimo e assustador com experiências que proporcionaram uma necessidade de autoafirmação, tiveram experiência com o objeto. Procuro explorar na palavra “autoafirmação” um sentido mais amplo, de necessidade de mudança íntima quanto sua visão no mundo e com a empatia gerada no trato com as pessoas em semelhança condição. Podemos resumir ao Zeitgeist, porém, acredito, por mais conceitual e elaborada seja essa perspectiva, ainda sim perderia parte da essência e participação dos envolvidos. Não visando a generalização, mas, somente pela experiência íntima com o objeto sabemos de suas necessidades e como melhor atende-lo, e trazendo para Kurt Lewin, somente uma pessoa conhecedora íntima da fragilidade sofrida da minoria pela maioria é que pode apresentar uma obra espetacular; não atoa nos mostra a perspectiva de Dinâmica dos Grupos.

Se me for pertinente, posso aproximar esse tema para a prática psicológica. Todos nós vivemos nessa dinâmica social e temos que procurar o desenvolvimento de uma visão menos crítica e mais acolhedora, aprimorar a empatia. O psicólogo que busca a excelência deve se afastar desse turbilhão e procurar em si o calor humano que passará para seu interlocutor. Digo isso procurando evidenciar, de forma mais explícita e dentro das práticas psicológicas, o quanto nossa própria experiência com determinada situação pode nos ajudar a intender o psicodrama do outro; então, o bom profissional deve trazer à consciência seus próprios “fundamentos” que o sustentam até o momento, quem o faz capacita-se à pleno gozo da empatia no trato humano que a nossa profissão representa. Com isso dito, e para finalizar, devo fazer uma ressalva: o psicólogo não deve impor ou tentar conduzir o sujeito pelos seus próprios caminhos subjetivos, mas sim facilitar o entendimento do seu interlocutor e fortalecer positivamente as lúcidas decisões, dentro da sua realidade social. Porque, capacitar-se em si não é, e nunca será, sinônimo de um caminho a ser percorrido pela pessoa que procura um profissional de psicologia.

 

 

Nota: Sei que sou contrário a proposta de Lewin ao afirmar que o passado influência o futuro - quando digo que as experiências inlfuenciam as escolhas -, entretanto pouco busco falar sobre a proposta de Kurt Lewin (fica para futuro artigo). Busquei, nesse artigo, expressar algumas considerações minhas sobre a dinâmica e gênese dos grupos.

¹ - Me instiga encontrar a palavra “deslocamento”, ainda mais sendo utilizada nesse sentido e em comunhão com agressividade. Me faz lembrar sobre os deslocamentos de tabu que são tratados na teoria freudiana (Totem e Tabu, Sigmund Freud). Posteriormente, em sala de aula, descobri as influências freudianas na obra.

 

Referências:

Mailhiot, Gérald Bernard. Dinâmica e Gênese dos Grupo - Atualidade das Descobertas de Kurt Lewin. Editora Vozes, 2013.

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