Ciclo Vital: Desenvolvimento da Criança de 02 a 06 anos.
O período de desenvolvimento da criança de 2 a 6 anos é marcado por notáveis avanços físicos e motores. Nesse estágio, as crianças demonstram uma série de mudanças em suas habilidades motoras globais e finas, que refletem a progressão natural do crescimento e aprimoramento ao qual é exposta. Este artigo tem como objetivo discutir e explicar um pouco mais sobre o desenvolvimento da criança durante esses anos cruciais da sua formação, abrangendo as principais características de cada fase e destacando a importância das conquistas alcançadas.
2 Anos e Meio: Durante essa fase, as crianças apresentam um notável aprimoramento em suas habilidades motoras. Elas são capazes de andar na ponta dos pés e saltar com os pés juntos. Além disso, demonstram uma curiosidade crescente ao explorar seu ambiente e correm à frente dos seus acompanhantes ou costuma ficar para trás durante passeios. Essa fase também é caracterizada pelo início da capacidade de empurrar brinquedos e mantê-los em um caminho específico. As atividades físicas, como dançar e requebrar ao ritmo de uma música, são comuns nessa idade.
3 Anos: Nessa fase, a criança desenvolve maior segurança e agilidade em suas atividades motoras para explorar o mundo. Seu caminhar e correr são atividades praticadas com confiança, e a criança é capaz de se equilibrar momentaneamente em um pé por exemplo. O ato de atirar uma bola sem perder o equilíbrio é uma conquista notável. Além disso, a capacidade de galopar, saltar e mover-se ao ritmo da música se acentua nesse período. Contudo, a criança ainda pode apresentar quedas e tropeços, indicando um nível crescente de tensão durante suas atividades físicas.
4 Anos: Aos 4 anos, a criança apresenta um raio de ação maior e desenvolve habilidades que exigem equilíbrio. Ela é capaz de correr pelas escadas, tanto para cima quanto para baixo, demonstrando coordenação e segurança. O manuseio de objetos frágeis, como transportar uma xícara com líquido sem derramar, evidencia o desenvolvimento de habilidades motoras finas. Nessa fase, a criança começa a mostrar interesse por construções mais complexas usando blocos grandes. Além disso, a habilidade de desenhar objetos e letras, bem como imitar formas simples começa aparecer.
5 Anos: Observa-se uma maior facilidade e domínio geral das atividades físicas. As habilidades motoras grandes ainda predominam sobre as finas, a criança demonstra maior estabilidade em suas atividades o que é evidente pelo aumento do tempo que permanece em um só lugar enquanto brinca. O jogo simbólico ou faz-de-conta se torna uma parte importante de suas atividades, indicando o desenvolvimento de habilidades cognitivas e imaginativas.
5 Anos e Meio: Nesse ponto, as crianças manifestam interesse em atividades mais complexas, como andar de bicicleta. Além disso, o desenvolvimento das habilidades motoras finas é evidenciado pelo interesse em aprender a desenhar seu próprio nome e em copiar formas mais intricadas, como um triângulo dividido. No entanto, ainda pode ocorrer reversão de números ou letras, evidenciando um certo grau de insegurança no processo de representação.
6 Anos: Nessa fase final dos anos pré-escolares, a criança apresenta atividade constante, muitas vezes desastrada, mas cheia de energia. Ela se envolve em atividades físicas que envolvem equilíbrio, como balançar, pular, saltar e praticar exercícios de barras. O jogo simbólico continua a desempenhar um papel crucial em suas atividades, refletindo a evolução de suas habilidades cognitivas e sociais.
Desenvolvimento Cognitivo da Criança de 2 a 6 anos
De acordo com Jean Piaget, o período de 2 a 6 anos é caracterizado pelo desenvolvimento do pensamento pré-operatório, marcado pela emergência da função simbólica. A criança desenvolve a capacidade de utilizar símbolos e signos para representar objetos e ideias. Isso é evidente na linguagem, no jogo simbólico e na imitação indireta. Através da linguagem, a criança começa a reconstruir suas ações passadas por meio de narrativas e a antecipar suas ações futuras por meio de representações mentais.
Durante essa fase, a criança também exibe um certo grau de egocentrismo, vendo o mundo a partir de sua própria perspectiva e tendo dificuldade em compreender as perspectivas dos outros. Isso se manifesta em raciocínios como o finalismo, no qual a criança atribui um propósito humano a eventos naturais, e o animismo, em que ela atribui características humanas a objetos inanimados.
Com essa capacidade, a criança consegue fazer com que um objeto represente outra coisa, por exemplo, um toquinho de madeira pode
representar um carrinho. Isto é possível porque ela pensa simbolicamente, ela tem a representação mental de um carrinho e pode transpô-la
para o toquinho de madeira que passa a simbolizá-lo. Nesta fase, o jogo simbólico ou o brincar de faz-de-conta são preponderantes nas atividades das crianças. Neste estágio, a criança apresenta uma atitude egocêntrica, quer dizer, a criança vê o mundo a partir do seu próprio ponto de vista e é incapaz reconhecer a perspectiva de outra pessoa. Esta característica se expressa, por exemplo, no raciocínio dos pré-escolares, que adquire as seguintes características:
Raciocínio finalista: a criança entende que não há acaso na natureza porque tudo é feito para os homens e crianças, como por exemplo, a criança diz: " Em Santos tem mar, para as pessoas nadarem" ou " As estrelas estão no céu para a gente olhar pela luneta". A partir dessas frases, que ilustram o pensamento infantil, fica claro que as crianças entendem que o ser humano está no centro do universo e os "fenômenos" acontecem com a finalidade de atendê-los.
Raciocínio animista: é a tendência das crianças conceberem as "coisas" como vivas e dotadas de intenção. Por exemplo, uma criança diz: "O sol se põe porque foi dormir" ou "Mãe, porque é que a vela sempre fica com medo quando eu sopro?". Observe, nos dois exemplos, a criança
descreveu os fenômenos a partir do próprio referencial, usando atributos humanos para explicá-los: humanos dormem - sol dorme; humanos
tremem quando têm medo – vela tem medo.
Raciocínio artificialista: a criança entende que as coisas foram construídas pelo homem ou por atividade divina operando do mesmo modo que a fabricação humana. Por exemplo, uma criança ao provar um abacaxi azedo diz: "Mãe botaram limão nesse abacaxi". O egocentrismo, além de conferir a criança raciocínios dessa ordem, também a faz pensar que cada um dos seus sentimentos, percepções ou explicações é compartilhado por todas as pessoas. Isso faz com que uma menina, por exemplo, ache que sua avó iria adorar ganhar uma boneca de presente de aniversário. Até cerca de sete anos, a criança permanece pré-lógica, seu pensamento é intuitivo, ou seja, "... é uma simples interiorização das percepções e dos movimentos sob a forma de imagens representativas..." (Piaget, 1967, p.35). Assim, uma criança pré-operatória é capaz de reconhecer que há a mesma quantidade de suco em dois copos idênticos, entretanto, se o suco de um dos copos e colocado integralmente em um outro copo mais alto e estreito, a criança dirá que no copo mais alto e estreito tem mais suco, mesmo considerando que a transposição foi feita na frente dela. Este exemplo explicita que o pensamento da criança não tem noção de conservação (a quantidade suco mudou com a mudança de copo) e é limitada pela irreversibilidade que é a incapacidade de compreender que uma operação pode ter dois ou mais sentidos (quando a criança puder pensar em restaurar o estado original do suco despejando-o de volta ao outro copo, a criança irá perceber que a quantidade de suco em ambos os copos é a mesma).
A teoria de Piaget é um marco na compreensão do desenvolvimento cognitivo. Contudo, algumas pesquisas mais atuais sugerem que Piaget
subestimou a capacidade das crianças pré-operacionais, pois constatam que algumas habilidades cognitivas se desenvolvem mais cedo do que ele supunha (Lourenço & Machado,1996 in Cole & Cole, 2003). Alguns teóricos (Astington & Gopnik,1991;Harris,1989;Perner,1991 in Bee,1996; Astington,1993; Bower,1993 in Papalia & Olds,2000) evidenciaram que as crianças entre 4 e 5 anos desenvolvem uma teoria da mente, quer dizer, são teorias sobre como sua própria mente e a dos outros funcionam e como as pessoas são afetadas por suas crenças e sentimentos. Por exemplo, mostra-se um cofre de moedas a uma criança e pergunta-se o que ela imagina que tenha dentro. A criança seguramente diz, moedas, e então, você abre o cofre na frente da criança e substitui as moedas por bolinhas de gude e então pergunta novamente o que tem no cofre, a criança diz, bolinhas de gude. Pergunta então, o que outra criança responderia e a criança, se tiver até 3 anos diz que a outra criança falará bolinhas de gude, já a criança de 4-5 anos, diz moedas, porque ela entende que o comportamento da outra criança se baseará em suas crenças, apesar de serem incorretas. Outro indício de desenvolvimento da teoria da mente é a capacidade de uma criança contar uma mentira; para isto, ela tem que ser capaz de imaginar o que a outra pessoa poderia pensar, ou seja, é um sinal de desenvolvimento cognitivo. A distinção entre a fantasia e realidade é um outro aspecto da teoria da mente; apesar de as crianças de 2 a 3 anos já conseguirem distinguir entre eventos reais e imaginários, ainda assim, crianças de 4 a 6 anos nem sempre têm certeza de que o que imaginam não é o real. Por isso, muitas vezes as crianças dessa fase agem como se os monstros de sua imaginação existissem.
BEE, H.- Recapitulando o Desenvolvimento Pré-escolar in O Ciclo Vital. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998 ( Interlúdio 2- p. 260-263)
CÓRIA SABRINI, M. A. Psicologia do Desenvolvimento. SP: Ática, 1998, Cap.4, p. 53-68
PAPALIA, E. Diane. FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. AMGH Editora, 2013
When you subscribe to the blog, we will send you an e-mail when there are new updates on the site so you wouldn't miss them.
Comentários