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Quantos psicólogos precisam para trocar uma lâmpada?

A resposta é somente uma possível: apenas um psicólogo, mas a lâmpada precisa querer ser trocada.


Com essas palavras, que incluem o título desse artigo, quero citar o capítulo O Desejo na Análise do livro de Bruce Fink, intitulado Introdução Clínica à Psicanálise Lacaniana. Julguei importante trazer essa metáfora pois na prática clínica todo profissional em algum momento irá questionar-se a respeito do desejo do analisando e, indo mais a fundo, questiona-se como se dá a relação da análise se o sujeito nega abrir mão da "somatização do seu desejo".


Quando trocar a lâmpada: a metáfora do desejo na análise

Um analisando que chega à terapia num momento de crise talvez se disponha a contemporizar, a aceitar a satisfação substitutiva de decifrar o inconsciente, em troca da satisfação enfraquecida do sintoma.

[...] talvez não seja necessário que a lâmpada queira realmente mudar: talvez basta ela estar queimada ou piscando.

Bruce FINK

O tema principal desse artigo, e consequentemente do texto citado, é sobre o desejo na análise e sua função estruturante no processo terapêutico. Tradicionalmente adotou-se a ideia de que, para que a análise e a transformação terapêutica acontecesse, o paciente deveria estar provido de um sentimento sincero de mudança e abnegação dos seus sintomas que, em última análise, seriam formas redutíveis de obtenção de prazer. Essa afirmação não é de toda mentira, é válido o questionamento a respeito dessa vontade de abnegação do sintoma. Mas será que, na prática, é assim que as coisas funcionam e/ou deveriam?

Se a lâmpada aqui é uma metáfora para o desejo e ao se falar de desejo falamos de sintomas, cabe aqui definir um entendimento sobre sintoma.

Sintoma: Como já dizia Freud o sintoma é uma forma de satisfação substituta e o paciente se empenha, muitas vezes, em manter essa relação econômica subjetiva. Ou seja, o indivíduo obtém prazer na sua forma de padecer. Nesse sentido o autor faz o seguinte questionamento:

Então, por que alguém se esforçaria, sinceramente, para abrir mão de sua única satisfação na vida?

Bruce FINK

Claro que uma pessoa não vai deliberadamente ao analista ou psicólogo para vencer seus conteúdos recalcados e descobrir novas modalidades de gozo e desfrutar da liberdade das amarras do temível inconsciente que aprisiona os seres. Nesse momento a metáfora da lâmpada começa tomar forma e sentido no nosso imaginário. Mas qual sua relação metafórica com o desejo do analista? Tais afirmativas são suscitadas pelo questionamento de que se, para que a análise ocorra, o sentimento de querer mudar do analisando seria suficiente para o tratamento. Isso porque, a grosso modo, o analisando nunca desejar abrir mão da verdadeira natureza de satisfação que o sintoma revela. Mas, para Fink, a "lâmpada" não precisa estar queimada para querer trocá-la. Apenas algo precisa não estar tão bem como deveria.

O que leva alguém para tratamento psicoterapêutico não é o sentimento de mudança propriamente dito, a real motivação é porque há algum tipo de perturbação na forma tradicional de prazer, uma perturbação no modo de viver desse sujeito, por uma condição muito cara de gozo, e quando essa pessoa recorre ao terapeuta não é para, muitas vezes, extinguir o sintoma ou lidar com o sua face desconhecida, mas sim para retornar de alguma forma a um estágio anterior onde essa modalidade de prazer funcionava.

É possível confiar tão somente nesse "sentimento de mudança" do analisando, seria ele um alguém tão confiável? Estaria ele munido de ferramentas que o resguardasse de si mesmo?

A resposta é obviamente não. Isso é muito evidente quando o analista chega próximo de algum ponto fundamental dessa estrutura do analisando e ai podemos observar seus mecanismos de defesa em pleno funcionamento, levando até mesmo à fuga do processo terapêutico. Mas o autor, em seu capítulo, nos conduz a um questionamento mais profundo e chega a um ponto fundamental: essa crise do gozo do paciente e seu desejo pela restauração (ao nível que for) são suficientes? O ponto central, aqui, seria então o desejo do próprio analista que agiria não como um agente regulador e opinativo, mas sim enquanto um desejo enigmático e instigante para com o processo terapêutico de forma geral. 

[...] o desejo do analista pode ser suficientemente intrigante para levar a pessoa a se envolver no processo analítico e, quando regularmente aplicado, a mantê-la em análise.

Bruce FINK

 Por que isso seria necessário? Porque se o analisando, vulgo paciente, recorre a análise para resolver sua crise do gozo porque algo quebrou sua homeostase psíquica, então com mais energia ainda ele procurará desvencilhar-se do processo analítico quando sentir que a análise colocará em cheque toda essa estrutura.


O que vocês acharam dessa questão? Escreva nos comentários.

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Quarta-feira, 30 outubro 2024