Perspectiva Psicanalítica sobre as Alucinações
Sem procurar esgotar o assunto e ressaltando que há algumas divergências entre as vertentes em psicanálise, podemos resumir, de forma geral, as alucinações em um bloco e através disso delinear algumas perspectivas psicanalíticas sobre as alucinações. Mas antes, vamos definir o que é uma alucinação:
Alucinação:
A alucinação é um transtorno da sensopercepção que mantém relação com o inexistente: a pessoa percebe um objeto, um copo por exemplo, sem que este esteja presente. Logo, para tal transtorno não há necessidade de haver um estímulo para que haja uma percepção errônea sobre o concreto.
A primeira e notável diferenciação entre os termos alucinação e ilusão foi proposta pelo alienista Esquirol (1772-1840):
"Um homem que tem a convicção íntima de estar percebendo uma sensação para a qual não há objeto externo estimulante está, então, em um estado de alucinação[...]".
Continuando. As alucinações se constituem enquanto uma ferramenta do ego, um mecanismo de defesa que procura expulsar para o meio (para fora de si, do eu, do sujeito) conteúdos inconscientes: desejos, conflitos recalcados, temores. São projeções, um mecanismo de defesa do Ego que se resume num poderoso processo defensivo de conteúdos insuportáveis para o Ego.
Se aceitarmos que o sujeito é um ser social atravessado pela linguagem entendemos, então, a exemplo das alucinações auditivas, que o alucinado exterioriza a experiência social da qual sua interação conflituosa resulta em significantes fortemente carregados de ansiedade, desmoralização, culpa e/ou até mesmo representação da autoridade enquanto tal (representada pelo agente encarnado da Lei, um pai, um professor, por exemplo).
Há também outros tipos de alucinações, como lembrado por Paulo Dalgalarrondo em seu livro Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais, tais como as visuais e gustativas, sendo as alucinações auditivas as que mais possuem significância psicológica na clínica. Em breve tarei mais artigos aprofundando o tema das alucinações e sua etiologia à luz da psicanálise, mostrando as diferenças entre as grandes vertentes psicanalíticas e explicando em detalhes. Nesse artigo limito-me apenas a mostrar um geral sobre as alucinações pela perspectiva psicanalítica.
Recomendo a leitura do seguinte artigo:
Qual a diferença entre Ilusão e Alucinação?
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Comentários 2
Bom dia Gabriel
É interessante pensar também na alucinação (igualmente como mecanismo subjetivo; não unicamente uma patologia psiquiátrica) no bebê. E a estrutura que estas alucinações primordiais permitem na constituição da subjetividada, da linguagem, do poder de imaginação; etc...
Uma sugestão de direção caso se deseje aprofundar mais esse tema da 'alucinação'
Seu texto foi bem preciso e didático, obrigado por disponibilizar
Obrigado pelas palavras, Felipe. Irei atualizar em breve a publicação para acrescentar suas observações que julgo muito válidas.