O surgimento da psicologia científica no mundo
O campo e entendimento da psicologia tão pouco aconteceu com o ilustre Wilhelm Wundt (conheceremos ele adiante), lá em Leipzig, mas remonta ao passado da própria humanidade. A psicologia está desde quando o homem procurou olhar para si e construir um entendido sobre os porquês da alma/espírito/mente, muitas vezes travestida pelos conceitos religiosos e morais da época. E isso é psicologia, em termos gerais: o estudo das funções mentais e sua relação com o corpo e sociedade. Claro, por muito tempo não houve um estudo aprofundado e sistematizado sobre a mente; até mesmo na Grécia antiga os filósofos de outrora procuravam soluções para uma problemática tão antiga quanto ao próprio homem.
Hipócrates, conhecido como o pai da medicina, classificou as pessoas em 4 tipos com base nos humores corporais, fleumático (fleuma), sanguíneo (sangue), melancólico (bile negra), colérico (bile amarela) e fleumático (catarro). Sócrates reconhecia a mente também, além da alma. Ele tinha analisado as atividades da mente na forma de pensamento, imaginação, memória e sonhos. Além disso, seus alunos Platão e Aristóteles reforçaram e continuaram a ideia de Sócrates. No entanto, eles não têm muita crença na existência da alma. Então, eles enfatizaram a capacidade de raciocínio do homem e chamaram o ser humano de animal racional.
Platão estava mais interessado em saber o papel da mente no controle do comportamento humano. Ele foi o progenitor do dualismo na psicologia. Ele considerava materiais e substâncias espirituais, o corpo e a mente como dois princípios independentes e antagônicos, mas ele não poderia esclarecer sua dúvida de forma satisfatória. Dualismo de Platão foi largamente superado por seu aluno Aristóteles, que reuniu pensamento psicológico com os estudos naturais e restaurou a sua estreita ligação com a biologia e medicina. Ele transmitiu a ideia da inseparabilidade da alma e do corpo vivo.
A Psicologia não surgiu diretamente como uma ciência. Ela começou como um ramo da filosofia e continuou por cerca de 2000 anos antes de emergir como uma ciência. Para falar do surgimento da psicologia devemos distinguir dois momentos muito importantes: a "antiga psicologia", debatida pelos filósofos principalmente, e a "nova psicologia" que resguardou para si um caráter científico que fora fortemente influenciado pelo materialismo alemão e as novas concepções fisiológicas que emergiam nas discussões acadêmicas. Sobre a "antiga psicologia", destacamos as influencias filosóficas com os grandes nomes de Auguste Comte, John Locke, George Berkeley, David Harley, James Mill, John Stuart Mill e etc. Já a "nova psicologia" começa a surgir com Wundt quando o mesmo cria um método científico próprio e estabelece as bases para como deveriam ser os métodos e objetivos de investigação do saber psicológico.
Mas aqui apenas tentamos resumir bem como o processo do surgimento de uma psicologia é muito distinto. Podemos remontar desde Descartes e a problemática mente-corpo, que influenciou toda uma história da filosofia e da ciência dos nossos tempos, ou podemos ir mais além e remontar o passado da psicologia desde o antigo Egito ou a Grécia pré-socrática, quando se especulava sobre natureza do homem. Muitas culturas ao longo da história especularam sobre a natureza da mente, coração, alma, espírito, cérebro, etc. A psicologia inicial era considerada como o estudo da alma (no sentido cristão do termo). A forma filosófica moderna da psicologia foi fortemente influenciada pelas obras de René Descartes e pelos debates que ele gerou.
É recente o entendimento de uma psicologia enquanto uma ciência e uma profissão. Esse processo deu início em meados de 1870+, com Wundt sendo o fundador da psicologia como disciplina acadêmica formal. Instalando o primeiro laboratório de psicologia, criando uma revista dedicada a esse tema e dando início a psicologia experimental enquanto ciência. Por isso Wilhelm Wundt é considerado, até hoje, o pai da psicologia moderna científica. Wundt nadou, digamos assim, nos novos pensamentos que estavam em discussão no ocidente europeu que voltavam a discussão sobre a mente e o corpo e sua relação.
A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta
Hermann Ebbinghaus
Nos é evidente que a psicologia de Wundt é pouco explorada - não ressalto isso com a pretensão de afirmar que deveríamos nos valer de seus métodos -, mesmo sendo muito apresentada nos livros introdutórios de história da psicologia. Para que possamos entender a proposta de Psicologia como uma ciência da experiência imediata de Wundt, temos que buscar em suas obras qual a teoria que ele atacou, quais críticas ele fez para preparar os bastidores de sua própria teoria.
"O objetivo da ciência natural consiste, no sentido mais geral, no conhecimento da realidade objetiva, isto é, dos objetos, cuja existência real deve ser pressuposta após a abstração das características que lhe foram atribuídas exclusivamente pela atividade subjetiva de representação" (Wundt, 1896, p. 24).
Continuando:
"A psicologia desfaz novamente esta abstração realizada pela ciência natural para poder investigar a experiência em sua realidade imediata. Ela fornece, portanto, informações sobre as interações dos fatores subjetivos e objetivos da experiência imediata e sobre o surgimento dos conteúdos particulares desta última, assim como de sua relação. A forma de conhecimento da psicologia é, pois, em contraposição à da ciência natural, imediata e intuitiva, na medida em que a própria realidade concreta, sem a utilização de conceitos auxiliares abstratos, é o substrato de suas explicações" (Wundt, 1896, p12).
Definindo a psicologia como ciência da experiência imediata, Wundt pretendia atacar uma ideia de psicologia (comum na época) que trava a mente como uma entidade ou substância, seja espiritual ou material. Para Wundt, claro, essa concepção de psicologia estaria errada pois baseava-se em hipóteses metafísicas. Como Ele queria estabelecer uma Psicologia independente, baseada na experiência, precisou descartar todas as concepções metafísicas.
Uma forte crítica que ele sofreu ao longo de sua vida (o que não o torna menos importante), é que o seu modelo metodológico não conseguia estudar comportamentos e processos mentais de animais, pessoas com distúrbios ou perturbações mentais. Nesses casos, a pessoa "estudada" não tem capacidade de ter uma real percepção interna de si e, por outro lado, o psicólogo nesses casos pode ser tendencioso. Muitos afirmavam que quando a introspecção é realizada por vários observadores, não há como saber qual é a correta. Os conhecimentos ou dados que a introspecção visa alcançar só podem ser comunicados pela linguagem e há experiências muito difíceis de exprimir verbalmente.
Podemos encontrar várias críticas sobre a teoria de Wundt, mas acredito que muitas delas se dão por falta de interpretação da própria teoria. Podemos encontrar, em suas obras, afirmações dele mesmo de que alguns métodos são passíveis de aprimoramento, sendo a percepção interna um deles. No quadro moderno e atual da psicologia, apenas atribui a Wundt os louros de ter tornado a psicologia independente. Sabemos que a teoria principal de Wundt tem fortes influências (se não diretas) de Fechner, o que sob nenhuma perspectiva tira os méritos sobre sua obra. Wundt nunca estabeleceu algo concreto de fato, o mesmo dizia que a psicologia estava em construção e criticava aplicações prematuras da psicologia.
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