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Os Problemas de Ensino e Aprendizagem: Implicações Pedagógicas e o Papel do Psicólogo

 Em relação às possibilidades de compreensão do fracasso escolar as autoras criticam a visão tradicional. Acreditam que tal perspectiva demonstra um descompromisso da Psicologia com as questões políticas, econômicas e sociais. A visão tradicional centra no indivíduo, em sua família ou no seu meio sociocultural as causas do não aprender. Assim, buscam em Marx, Leontiev, Giroux e Vigotski, entre outros autores, o referencial teórico crítico para pensar o papel da escola na constituição do indivíduo e da sociedade.

Á partir de uma perspectiva crítica, as autoras consideram o jogo de forças e interesses políticos presentes em uma determinada sociedade como aspectos significativos para se compreender o processo de produção do fracasso escolar. Tal processo é pensado como sendo multideterminado, ou seja, sofre a ação das forças sociais, políticas, econômicas e culturais presentes num determinado grupo social, é, portanto, produzido, constituído no tecido de relações que envolvem os sujeitos.

Tendo em conta o referencial teórico crítico, as autoras apresentam possibilidades de ação para o psicólogo escolar junto á demanda de queixa escolar e também em relação à sua atuação em instituições de ensino.

O melhor lugar para um psicólogo escolar é o lugar possível, dentro ou fora da instituição, desde que ele se coloque dentro da educação e assuma um compromisso teórico e prático com as questões da escola, já que independentemente do espaço profissional que possa estar ocupando, ela deve se constituir no foco principal de sua reflexão, ou seja, é do trabalho que se desenvolve em seu interior que emergem as grandes questões para as quais deve buscar tanto os recursos explicativos quanto os recursos metodológicos que possam orientar sua ação. (Meira,2000,p.36)

Apresentamos a seguir as principais idéias apresentadas pelas autoras do texto em relação ao trabalho do psicólogo escolar, seu papel, objeto de estudo, modo de compreender a demanda escolar e possibilidades de ação.


Ação junto à Demanda de Queixa Escolar

Papel do Psicólogo EscolarSeu papel deve ser o de mediador no processo de elaboração das condições para que a queixa possa vir a se superada. Tal processo deve ser realizado junto com todos os segmentos envolvidos: família, escola, criança.

Objeto de EstudoO objeto de estudo é o modo como o comportamento de uma criança (alvo da queixa) é influenciado pela educação em geral e pela educação oferecida na escola, ou seja, é o processo de produção da queixa e seus efeitos nos indivíduos envolvidos nesse processo.

Ação do Psicólogo EscolarDeve estar voltada para a descrição e análise da relação entre o processo de produção da queixa escolar e os processos de subjetivação/objetivação dos indivíduos nele envolvidos, como uma condição necessária á superação das histórias de fracasso escolar. (p.29)

Compreensão da QueixaA queixa é apenas a aparência, é preciso olhar o entorno, o que a envolve e a possibilita. A queixa deve ser compreendida como sendo constituída por múltiplas determinações. Devemos buscar com todos os envolvidos as ações, os acontecimentos, as concepções que produziram e motivaram o encaminhamento de tal criança.

IntervençãoDesenvolver ações voltadas aos vários segmentos envolvidos no processo (professores, alunos, familiares) no sentido de tornar pensável o processo de produção da queixa e conseqüentemente as estratégias necessárias para que a mesma possa ser superada.


Atuação do Psicólogo em Instituições de Ensino

Papel do Psicólogo EscolarAuxiliar a escola a remover os obstáculos que se interpõem entre os sujeitos e o conhecimento e a formar cidadãos por meio da construção de práticas educativas que favoreçam os processos de humanização e reapropriação da capacidade de pensamento crítico. (p.43)

Objeto de estudoÉ o encontro entre os sujeitos e a educação.

Ações do Psicólogo EscolarRefletir sobre os diferentes aspectos que compõem o cotidiano escolar. Analisar criticamente essa realidade concebendo-a como construção social e, portanto, possível de transformação pela ação humana. Planejar ações que contribuam para as transformações necessárias. Implantar projetos que traduzam o compromisso ético, político e profissional com a construção dos processos educacionais.

Etapas do Processo de IntervençãoAvaliação da realidade escolar; discussão com os vários segmentos envolvidos; elaboração e execução do plano de intervenção.


Processo de Avaliação da Realidade Escolar

Veja alguns exemplos de dados que são interessantes de se obter nesse processo de avaliação e onde buscá-los.

Na organização da escolaVerificar por exemplo quantas classes, turmas, funcionários, existem e se isso é adequado para a demanda. Há reuniões com professores, com a comunidade escolar, quais atividades a escola oferece?

Recursos físicosQuais são esses recursos?São adequados ás necessidades da comunidade?

Corpo docenteQual a formação dos professores, a experiência profissional, as condições de trabalho?

Proposta pedagógicaA proposta pedagógica é algo concreto, acontece na realidade ou é apenas algo que está escrito no plano escolar? Ela é compartilhada por todos? Como é o sistema de progressão?

Equipe que dirige a escolaComo foi formada? Qual a experiência desses profissionais? Organização dos segmentos que compõe a escola. Há Grêmio Estudantil, Associação de Pais, etc. Como funcionam esses segmentos? Quais as condições sócio-econômicas da clientela. Como foi formado esse bairro? Qual a história dessa escola? Como os diferentes segmentos compreendem seus problemas? Quais as expectativas em relação ao trabalho do psicólogo escolar? Qual as possibilidades e limites para a implantação de projetos? Quais os parceiros em potencial?


O Relatório de Avaliação

Sintetiza os principais procedimentos utilizados, contém uma apresentação geral dos dados, indica de forma clara as questões que devem ser trabalhadas e como isso pode ser feito.

Deve ser apresentado aos vários segmentos envolvidos para discussão, reflexão sobre o que foi compreendido e o que está sendo proposto enquanto estratégia de trabalho.

Plano de Intervenção

Responde ao que foi percebido na avaliação, é composto por um conjunto de estratégias de ação, deve ser implementado pelos vários autores do processo, contém ações que poderão ser realizadas a curto, médio e longo prazo.

Veja alguns dos itens que compõe o plano de intervenção: Objetivo Geral. Objetivo Específico, Estratégias, Condições objetivas para a realização das intervenções: recursos físicos, humanos, horários, etc.

Em linhas gerais a ação do psicólogo escolar deve contribuir para: gestão democrática da escola; resgate da autonomia dos sujeitos; formação de vínculos; ampliação da participação popular; planejamento condizente com o desenvolvimento, o interesse e as necessidades dos alunos; identificação e remoção dos obstáculos que possam impedir os alunos de construir conhecimento. Cabe lembrar que no processo de intervenção devemos considerar a especificidade de cada caso.


Referências:

TANAMACHI, E.; MEIRA, M. A atuação do Psicólogo como expressão do pensamento crítico em Psicologia e Educação. In: Psicologia Escolar: Práticas Críticas. MEIRA, M.; ANTUNES, M. A. A. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2003. p. 11 a 62.

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