By Mazin, G. on Domingo, 30 abril 2017
Category: Teorias e Sistemas em Psicologia

Qual a origem do horror ao incesto em Freud?

Podemos desenvolver uma enorme e ampla pesquisa buscando uma resposta quanto as origens da proibição do incesto. Uma pesquisa dessa natureza encontra sentido nas teorias psicanalíticas, onde o Complexo de Édipo - recomendo buscar o mito de Édipo Rei, muito legal - tem um papel ativo na psique humana - se assim podemos designar. Por mais extensa que seja tal pesquisa somos obrigados, em determinado momento, a admitir que todas as respostas encontradas nos levam apenas para um beco sem saída que está muito longe da objetividade necessária. Digo que encontramos um sentido no Complexo de Édipo porque assemelha-se, de forma muito resumida, ao ciúme e controle evocados originalmente na proibição do incesto. Claro, não estou sendo taxativo e pouco estou comparado tais conceitos mas busco apenas emoldurar os conceitos que aqui serão descritos; O complexo de Édipo ficará para outro artigo.

Freud lança luz nesse tema no título Totem e Tabu, onde ele disserta sobre os aspectos da horda primeva. O horror ao incesto está intimamente vinculado a um mecanismo complexo de "sentimentos" que é intrínseco a todo ser humano: ciúme e controle. Não quero destrinchar esses dois termos, acredito que uma concepção por mais superficial que seja já é satisfatória para nosso entendimento.

Tal informação nos leva a crer que a exogamia foi criada simplesmente para coibir o incesto. Mas só saber que a proibição do incesto vem do ciúme e do controle não é satisfatória porque não nos apresenta um significado, tão pouco nos apresenta um conteúdo qualitativo. Teríamos, então, que nos contentarmos com a superficialidade até então apresentada.

"[...] O ciúme do macho mais velho e mais forte impediu a promiscuidade", (Freud, 2012, pag. 129).

Entretanto, podemos destrinchar o que nos foi apresentado.  Sabemos que nossa psique, hoje, traz uma herança animal de ordem menos complexa, logo, basta analisarmos algumas espécies que compartilham de um sistema social hierarquizado de forma semelhante dos primitivos de nossa espécie e para tal podemos nos valer de uma semelhante afirmação de Darwin - apresentada por Freud em Totem e Tabu.

"Podemos realmente concluir, do que sabemos sobre o ciúme dos quadrúpedes machos, dotados, como muitos deles são, de armas especiais para lutar com os adversários, que o intercurso promíscuo no estado de natureza é extremamente improvável [...]. Portanto, se olharmos bastante para trás no curso do tempo, [...] julgando pelos hábitos sociais do homem tal como hoje existe [...] a concepção mais provável é que o homem primevo originalmente viveu em pequenas comunidades, cada um com tantas esposas quantas podia obter e sustentar, que ele ciumentamente guardaria dos outros homens. Ou pode ter vivido sozinho com várias esposas, como o gorila; pois todos os nativos `concordam em que apenas um macho adulto é enxergado num bando; quando o macho jovem cresce, há uma disputa pelo domínio, e o mais forte, matando ou expulsando os outros, estabelece-se como o líder da comunidade` (dr. Savage, em Boston Journal of Natural History, v. V, 1845-7, p 423). Os machos jovens, vagando após serem expulsos, uniões consanguíneas muito próximas no interior da mesma família", (Darwin).

Então, o incesto terá origem no entendimento consciente ou inconsciente de um desejo para com o outro que, temendo o mesmo de futuros e possíveis rivais e motivado por um sentimento que se polido poderemos chamar de ciúme, controlará o objeto desejado visando impedir tal "transgressão".

"Nada de relações sexuais entre companheiro de horda" (Freud, 2012, pag. 130).

Com essa afirmação Freud busca elucidar que o líder da horda se impõe tal prática para que não haja a transgressão por terceiro e determina uma punição para que não motive os demais. O líder consegue aplicar tal imposição porque encontraria os mesmos desejos de incesto e o ciúme nos outros além da inclinação à dominação nos outros membros. Logo, essas seriam as origens de uma proibição do incesto que se mantém até hoje representada em religiões e num sistema de leis que visam coibir a prática incestuosa.

Claro que não busco esgotar o assunto e para uma leitura mais aprofundada no tema eu recomendo o livro Totem e Tabu. Nào me aprofundarei mais porque tanto começaria fugir do assunto original quanto precisaria entrar nos campos do totemismo e, posteriormente, nas transgressões de um determinado tabu.

Referências:

Freud, Sigmund. Totem e Tabu. Penguin e Companhia das Letras: 2015.

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