Esse tema causa muita dúvida entre quem pouco conhece as teorias e propostas piagetianas e certa revolta para quem defende o construtivismo enquanto abordagem psicoterápica. Não pretendo esgotar o assunto nesse artigo e tão pouco promover uma verdade absoluta, mas apenas procuro elucidar algumas concepções de Piaget e promover uma reflexão quanto ao assunto. Tenho certeza que será necessário produzir mais conhecimento conforme percebo as dúvidas nos comentários, então não ficaremos só nesse artigo... outros serão necessários.
O que é o termo construtivismo? O termo Construtivismo tem origem no verbo construir e, para as práticas psicológicas, significa organizar, dar estrutura. Os psicoterapeutas construtivistas se respaldam nas teorias piagetinas e defendem que a terapia construtivista se desenvolve no amadurecimento da relação (construção de significado) entre o sujeito e o ambiente (objeto). Não devemos buscar respostas no campo do certo e do errado. Atualmente encontra-se uma pluralidade muito grande dentro das práticas construtivistas, tal pluralidade não ajuda na estruturação e valorização de definições básicas de tais concepções. Para fins de conhecimento, podemos citar os segmentos: construtivismo social, cognitivo construtivista, construtivismo radical.
Olhando para esses nomes logo percebemos suas influências.
Psicoterapia:
A psicoterapia é uma terapia que procura tratar problemas de ordem psicológica, tais como problemas emocionais, comportamentais e cognitivos. Todo psicólogo possuirá um referencial teórico que direcionará as perspectivas e o melhor método de abordar e promover uma melhora no quadro psíquico do paciente, sendo assim todas as abordagens de modo geral procuram uma melhora de ordem emocional junto ao sujeito - as teorias só mudam quanto a concepção de "emoção". Logo, não podemos dizer praticar determinada abordagem se essa mesma (construtivismo) vai contra o próprio princípio de psicoterapia, tão pouco se valer de nomenclaturas contrárias a sua própria prática e/ou referencial escolhido.
O Construtivismo é uma abordagem epistemológica interacionista e isso abre um leque de aproveitamento para algumas abordagens psicológicas e para futuros aprimoramentos e/ou desenvolvimentos teóricos. Exemplo: Dentro da psicanálise podemos usar a teoria de Piaget para complementar e entender o estado atual da criança; diferente no behaviorismo radical, que não abre espaço para uma visão interacionista do sujeito / ambiente porque tudo resume ao comportamento.
Devemos lembrar sempre que Piaget propôs uma Teoria da Inteligência e da Moralidade, nunca uma forma psicoterápica. Tanto os modelos educacionais quanto os psicoterápicos que temos hoje - que se baseiam em PIAGET - não foram por ele propostos. A crítica que fomento nesse artigo é sobre o uso do termo construtivismo utilizado por muitos, na prática clínica, de forma leviana, sem entender ao certo qual a proposta de PIAGET. Há autores que defendem o construtivismo como uma prática psicoterápica, entretanto é uma iniciativa própria e baseiam-se em Piaget e não como pregam ser uma teoria psicoterápica DE PIAGET.
Respondendo a pergunta proposta nesse artigo: Sim! Há Psicoterapia Construtivista, mas não Piagetiana (desenvolvida por...).
Existe o Construtivismo Piagetiano (baseado, somente baseado, em PIAGET), Cognitivo Construtivismo, Construtivismo Radical e etc. O importante é saber a diferença entre eles e não generalizar ao ponto de falar que PRATICAMOS a psicoterapia de Piaget ou que estamos passando por um processo psicoterápico piagetiano. Piaget nunca propôs uma teoria da emoção, somente procurou explicar os processos do desenvolvimento cognitivo da inteligência e da moralidade.
"O Construtivismo é uma doutrina acerca do processo de obtenção do conhecimento que defende o papel ativo do sujeito neste processo. Para o Construtivismo as nossas representações sobre a realidade não são determinadas pelo objeto, antes, são construídas pelo sujeito. Não existe olhar neutro sobre a realidade, pois toda observação que fazemos é feita à luz de nossas hipóteses e teorias sobre o mundo, de nossos constructos. Essa posição é generalizada no pensamento ocidental contemporâneo, não sendo novidade nem exclusividade da Terapia Construtivista", (Castañon, 2005).
Acabo sendo um pouco crítico ao abordar esse tema porque defendo o uso correto dos termos presentes em nossa profissão, é correto falar em "psicoterapia cognitivo construtivista" e não tão somente "psicoterapia construtivista" - exemplo -. Já ouvi analistas do comportamento usar o termo inconsciente e já ouvi psicólogo falar que pratica a terapia de Piaget e, para mim, isso não passa de falta de preparo do profissional. Espero ter conseguido expressar de forma clara meu pensamento sobre o tema, não quero esgota-lo aqui e sua opinião é muito importante.
Referências:
Castañon, Gustavo Arja. Construtivismo e Terapia Cognitiva: questões epistemológicas. Scielo: 2005.