De acordo com De Silva (2015), a última década testemunhou um notável aumento no interesse das comunidades científicas em relação à saúde mental global. Um dos principais focos dessas últimas pesquisas tem sido os transtornos depressivos, tendo a depressão como das condições mais prevalentes e debilitantes no mundo atualmente. Os transtornos depressivos estão afetando milhões de pessoas de todas as classes sociais. Para aqueles que enfrentam a depressão, as lutas são frequentemente multifacetadas e profundamente debilitantes. Esta condição de saúde mental pode se manifestar de diversas formas, mas um aspecto comum é a esquiva experiencial que desempenha um papel cruciall na manutenção da depressão.
Daí a importância de discorrer discorrer e explorar os aspectos da esquiva experiencial do sujeito, quais os seus efeitos na manutenção depressão, a importância da flexibilidade psicológica do indivíduo e como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) pode vir a ser uma abordagem eficaz para lidar com a depressão. Como primeira escolha para o tratamento da depressão, a psicoterapia e a farmacoterapia são as principais abordagens utilizadas que trazem benefício ao paciente. As psicoterapias de base comportamental, são comumente relatadas como eficazes na redução dos sintomas da depressão ou na remissão de um episódio depressivo (Abreu e Abreu, 2015; Anthes, 2014;). E é sobre a psicoterapia de base comportamental que iremos discorrer ao longo desse texto:
Esquiva Experiencial na Depressão: A esquiva experiencial é um fenômeno observado em muitos indivíduos que sofrem de depressão. Ela se refere à tendência de evitar ativamente pensamentos, sentimentos e memórias associados à depressão. Quando alguém está clinicamente deprimido, muitas vezes, tenta evitar confrontar e lidar com essas emoções avassaladoras.
Essa esquiva experiencial pode se manifestar de várias maneiras. Indivíduos podem se envolver em comportamentos que visam suprimirr ou controlar pensamentos depressivos, ou podem buscar distrações constantes para evitar enfrentar a realidade de sua condição. Embora essas estratégias possam proporcionar um alívio temporário, a longo prazo, elas resultam em um estreitamento do repertório comportamental do indivíduo e contribuem para a manutenção da depressão.
A Ruminação na Depressão: Um dos aspectos mais marcantes na depressão é a presença de processos cognitivos, incluindo a ruminação. A ruminação pode ser definida como um processo de pensamento excessivamente reflexivo e recorrente, no qual o indivíduo busca respostas para as causas, significados e consequências de seu estado emocional e comportamental.
Indivíduos com depressão frequentemente experienciam pensamentos como "Por que estou me sentindo assim?" ou "Quando isso vai passar?". Declarações como "Sou depressivo e, portanto, não consigo levantar da cama" são indicativas de ruminação. Esses processos de pensamento podem resultar em desconforto psicológico e reforçamento de padrões de pensamento inflexíveis.
A esquiva experiencial e a ruminação frequentemente andam de mãos dadas. Quando alguém tenta evitar conscientemente sentimentos e pensamentos relacionados à depressão, a ruminação pode se tornar uma estratégia involuntária para tentar entender e controlar esses sentimentos. Infelizmente, esse ciclo de esquiva experiencial e ruminação pode levar à perpetuação da depressão e a uma redução na qualidade de vida do indivíduo.
A Importância da Flexibilidade Psicológica
A flexibilidade psicológica se torna um componente crucial na compreensão e tratamento da depressão. Em vez de buscar reduzir a intensidade de pensamentos e sentimentos depressivos ou tentar alterar seu conteúdo, a abordagem da ACT se concentra em modificar a relação do indivíduo com essas experiências. A chave é aceitar a presença desses eventos internos em vez de evitá-los, o que permite que o paciente redirecione seu comportamento em direção a atividades alinhadas com seus valores e objetivos de vida.
A flexibilidade psicológica envolve a ampliação do repertório comportamental, mesmo em face de pensamentos e sentimentos aversivos. Em outras palavras, é a capacidade de agir de acordo com seus valores pessoais, independentemente do desconforto emocional que possa estar presente.
Tratando a Depressão com a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) é uma abordagem terapêutica eficaz no tratamento da depressão e na promoção da flexibilidade psicológica. A ACT não visa eliminar o desconforto emocional imediatamente, mas sim modificar a relação do paciente com seus pensamentos e sentimentos.
A abordagem da ACT envolve vários passos:
- Determinação de Comportamentos Ineficazes: O terapeuta ajuda o paciente a identificar comportamentos que não estão alinhados com seus valores e objetivos.
- Demonstração dos Fundamentos da Esquiva Experiencial: O terapeuta explora como os comportamentos ineficazes estão relacionados ao controle emocional e à esquiva experiencial.
- Diminuição da Fusão: A fusão refere-se à tendência de se identificar com pensamentos e sentimentos. A ACT ajuda o paciente a se dissociar desses eventos internos.
- Promoção de Autoconhecimento: O terapeuta incentiva o paciente a desenvolver uma percepção mais ampla de si mesmo, separando-se das crenças literais e ruminativas.
- Identificação de Valores e Objetivos: O paciente é auxiliado a reconhecer seus valores e objetivos de vida.
- Ação Comprometida: O foco principal é apoiar o paciente na realização de ações alinhadas com seus valores e objetivos, mesmo quando ocorrem pensamentos e sentimentos aversivos.
A ACT reconhece que eventos internos aversivos são naturais e inevitáveis. Em vez de buscar eliminá-los, a terapia promove uma abordagem de aceitação e compromisso.
Considerações Finais
A depressão é uma condição desafiadora que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A esquiva experiencial e a ruminação são processos comuns que podem contribuir para a manutenção da depressão. No entanto, a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) oferece uma abordagem eficaz para lidar com esses aspectos complexos da depressão.
À medida que a pesquisa continua a explorar o tratamento da depressão, a ACT emerge como uma abordagem promissora que promove a flexibilidade psicológica e ajuda os pacientes a redirecionar seus comportamentos de acordo com seus valores e objetivos de vida. A integração de várias disciplinas, incluindo epidemiologia.
Fontes:
Abreu, P. R., & Abreu, J. H. S. S. (2015). Ativação Comportamental. In Santos, P., Pinto-Gouveia, J., Oliveira, M. S (Orgs.), Terapias Comportamentais de Terceira Geração. (pp. 406-435) Novo Hamburgo, RS: Sinopysys.
Anthes, E. (2014) Depression: A change of Mind. Nature. Nov 13;515(7526), 185-187. doi: 10.1038/515185a.
De Silva, M.J. (2015). Impact evaluations of mental health programmes: the missing piece in global mental health. Journal of Epidemiology Community Health, 69, 405-407