Você já se perguntou sobre "qual a importância da filosofia para a psicologia" ou "quais as influências que a psicologia tem da filosofia"?
É comum questionarmos sobre o papel da filosofia no surgimento da psicologia, ainda mais quando começamos estudar a história da psicologia. Para que possamos responder o tema proposto, devemos entender as perspectivas dos filósofos que contribuíram com a indagação sobre nossa própria existência para, depois, entendermos quais os pontos que a psicologia criticou e que suscitou na separação dessas duas áreas. Como não pretendo abordar a relação tênue entre filosofia e psicologia, me limito em falar do cenário que favoreceu o aparecimento da psicologia enquanto ciência e das influências que ela teve.
Podemos dizer que a psicologia começou germinar com os primeiros filósofos gregos, ao questionarem a sua realidade. Esse movimento foi impulsionado por consequência da criação das primeiras cidades-estado e da alavancada econômica e social que ocorreu na Grécia, o que resultou na necessidade do homem olhar para si e questionar a sua própria realidade e a das coisas. Ressalto que estamos ainda na era pré-socrática, quando a maioria dos questionamentos tinha uma origem metafísica. A importância desses pensadores está no uso especulativo da razão que, através desse método, buscavam responder os questionamentos sobre a origem das coisas. E é nesse contexto que, anos depois, nascerá Sócrates e moldará uma parte importantíssima da história da filosofia.
Com a influência de Sócrates, tivemos outros grandes pensadores como Platão e Aristóteles que abordavam a relação entre mente e corpo; acreditavam que a mente e o corpo estavam ligados, sendo que a primeira exercia forte influência sobre o corpo e ambos não podiam ser dissociados. Posteriormente, um filósofo, físico e matemático francês chamado René Descartes questionou essa relação, dizendo que acreditava na interação unilateral porém o corpo exerceria maior domínio sobre a mente (cérebro). Logo, Descartes influenciou toda a filosofia moderna e é considerado, por muitos, o pai dela.
Note que quando procuramos respostas a respeito do comportamento humano, sem levar em consideração preceitos religiosos e populares, falamos, também, de psicologia. Até o século XIX, filosofia e "psicologia" andaram de mãos dadas através de suas escolas de pensamento filosófico procurando responder questões levantadas sobre a subjetividade do ser humano. Sempre gosto de dizer que uma das funções primárias do psicólogo é de promover a reflexão, não de entregar um modelo pronto sobre a vida, mas fazer com que o indivíduo, sozinho, pare e reflita sobre sua realidade subjetiva.
Nessa altura eu posso levantar a seguinte questão:
- Os filósofos de outrora tinham uma constituição de pensamento parecida, no sentido de promover a reflexão?
Logo, podemos atribuir essa forma de pensar e estimular o pensamento à herança filosófica.
Séculos depois, a Igreja Católica monopoliza o conhecimento e é impossível de se ter algum esboço de "psicologia" nesse período sem ligar-la as raizes religiosas. Tanto que nessa época temos dois grandes filósofos que estruturaram parte do pensamento da época, são eles: Tomás de Aquino (Tommaso d'Aquino, 1225-1274 d.C.) e Agostinho de Hipona (Augustinus Hipponensis, 354-430 d.C.).
É nesse cenário que podemos descrever a necessidade que a psicologia encontrou de se separar da filosofia:
Qual a importância da filosofia para a Psicologia?
Sabemos que a psicologia enquanto ciência e distinto campo acadêmico começou com os médicos do século XIX, que também eram filósofos. Eles perceberam que era incapaz de explorar as bases do intelecto com as proposições lógicas da filosofia, tanto a medicina quanto a filosofia, na época, não conseguiam responder questões sobre a constituição da sensação, percepção, pensamento, linguagem, imaginação, consciência e memória. Outro ponto que a razão não explicava, que foi impactante no desmembramento, era quanto a motivação humana (apetições, emoções e afetos).
Abro um parágrafo importantíssimo para que possamos atribuir os devidos méritos. Sabemos que Wilhelm Wundt construiu o primeiro laboratório de psicologia e foi pioneiro na experimentação, mas não nos estudos iniciais. Wundt foi muito influenciado por Gustav Theodor Fechner, com sua obra "Elementos da Psicofísica". Fechner foi matemático e físico, além de... filósofo. Ele quem desenvolveu os primeiros pensamentos a respeito da relação entre a quantidade de excitação e a intensidade da sensação.
Foi nesse contexto que, no início do século XIX, a psicologia interrompeu as especulações sobre a natureza humana e desviou sua energia para fins mais objetivos e concretos. Nesse momento há divergência direta de idéias e ocorre a separação entre filosofia e psicologia. Na época, os primeiros psicólogos tiveram a árdua tarefa de romper com os preceitos metafísicos da filosofia e tentar estabelecer a psicologia como uma ciência natural.
É interessante que, anos depois, a psicologia experimental se dividiu perdendo aquela identidade individualista que, nos primórdios da sua concepção, tanto lutou para adquirir. Logo depois aparece as teorias da personalidade e das teorias de psicoterapia, o que pode nos lembrar, em muitos casos, de uma doutrina metafísica. Mas bem podemos atribuir tal pensamento a fidelidade dos seguidores dessas teorias.
Note que tudo o que mencionei sobre os antigos filósofos gregos e católicos foi importante para a formação da psicologia enquanto ciência. A importância está no fato de que foram eles os contribuintes na formação e especulação inicial sobre o homem, se não fossem essas pessoas e, principalmente, se não houvessem feito indagações sobre sua própria realidade e formulações dos conceitos resultantes (metafísicos ou não), dificilmente as mentes por trás do aparecimento da psicologia como ciência (no século XIX) teriam assim o feito. Não levo em conta fatores econômicos e sociais de propósito, porque aborda-los afastaria da proposta inicial e isso fica para um próximo artigo.
Todos os pensadores que precedem a formulação de um novo conceito são importantes, seja na elaboração e aprimoramento qualitativo da ideia inicial ou contestando e mostrando uma nova forma de pensar. Se não fossem por todas as figuras ilustres que ajudaram no despertar da nossa consciência, ainda estaríamos procurando respostas no Divinus. Logo, a importância da filosofia se justifica ao longo de todo o texto apresentado. Filosofia e psicologia sempre estiveram juntas, mesmo que essa segunda não tenha sido, outrora, elaborada de forma intencional.
Referências: